quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A Padroeira

A Padroeira

* Eduardo Tavares Mendes


Nossa Senhora do Ó (foto: autor)

          Toda comunidade tem sua história, seu folclore, suas crenças. Somente quem nasceu e viveu em cidades do interior sabe o que é o convívio com gente simples que, com certeza, sabe aproveitar aspectos e passagens da vida que, verdadeiramente, proporcionam bem-estar e felicidade.



A fé do sertanejo (foto: autor)


        A pequena Traipu, situada na margem alagoana do “Velho Chico”, não foge à regra. Pelo contrário: é rica em valores locais e universais e, como em grande parte das cidades brasileiras, a religiosidade dos seus filhos é marcante. Lá, da colina sobre o rio São Francisco, é Nossa Senhora quem exerce, realmente, a função de protetora de toda aquela gente pacata e hospitaleira.  

      Sempre indaguei a respeito do magnetismo e da força de Maria sobre os povos, e sempre perguntei sobre o porquê dos seus tantos nomes e das suas tantas imagens. Aprendi, depois, que os muitos títulos dedicados à mãe de Jesus correspondem à maneira de sua aparição ou à sua imagem diversificada. Às vezes, a imagem retrata seu sofrimento durante a paixão e a morte de Jesus Cristo; outras mais, exalta a virgindade, a dor, a glorificação no céu, ou o triunfo contra o mal.

       Na verdade, o povo de cada cidade, de cada vila ou recanto da Terra quer ter o prazer de chamar a Virgem Santíssima de uma forma particular. A cada aparição, um novo nome lhe é concedido e, assim, Maria está ligada aos lugares e às populações de forma bastante especial: “Nossa Senhora Aparecida”, “da Lapa”, “da Apresentação”, “da Conceição”, “das Dores”, “de Fátima”, “da Anunciação”, “da Glória”, “da Assunção” etc.  

       Em Traipu, Maria é chamada de “Nossa Senhora do Ó”, nome talvez relacionado ao momento da encarnação, e é grande a atração que sua imagem exerce sobre as pessoas, mormente as mais carentes. São João Damasceno já dizia que “O que a bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados”. Daí a explicação para o fato de as romarias serem compostas de tanta gente modesta e necessitada.

     Mas a fé atrai ricos, pobres, eruditos e analfabetos. É ela que mantém viva a esperança de melhores dias. É ela, ao lado da esperança, que dá sentido à vida. A característica mais importante da localidade, portanto, é a fé inabalável que o povo tem em sua guardiã. Todos os anos, em dezembro, centenas de traipuenses dirigem-se à terra natal para participar das festividades da Padroeira, “Nossa Senhora do Ó”, mãe, amiga, milagreira, e protetora das mulheres e dos homens ribeirinhos. Quem a ela recorre não passa privação, não se sente abandonado, suporta o sofrimento e tem visão mais otimista do mundo - dizem os devotos.  
 
     Quantas vezes criaturas sofredoras não se sentiram aliviadas ao pronunciarem a conhecida frase, em tom de súplica: “Valei-me, minha Nossa Senhora do Ó!”

     Filho de Traipu, sempre desfrutei o conforto de ter nascido sob a proteção de “Nossa Senhora do Ó”, vivenciando, a cada instante, a alegria de fazer parte de uma comunidade composta de tanta gente boa e trabalhadeira que, com a fé na Virgem Maria, tem enfrentado, com altivez, com coragem e com força de vontade, todos os desafios da vida.

* É filho de Traipu e membro do Ministério Público de Alagoas.