sábado, 3 de setembro de 2011

O Mártir de Minas

O Mártir de Minas

* Eduardo Tavares Mendes

O Brasil inteiro revoltou-se, em janeiro do ano em curso, com a triste notícia do assassinato do promotor de justiça de Belo Horizonte, Francisco José Lins do Rego.

O crime que vitimou o representante do Ministério Público mineiro acentuou a instabilidade e a insegurança que, concretamente, já fazem parte do dia-a-dia dos brasileiros. Como compreender que alguém que tem a incumbência de velar pelos interesses maiores da sociedade, defendendo intransigentemente os bens mais valiosos da humanidade como as florestas, a fauna, os rios, o mar, enfim, a vida, em todas as suas formas e manifestações, não tenha sido capaz de defender e de preservar a própria vida?

Engajado, nos últimos meses de sua existência, no combate às fraudes contra o consumidor, o mártir do Ministério Público mineiro teve o mesmo destino do alagoano Silvio Viana e de tantos outros homens extraordinários que ousaram investigar crimes cometidos por “poderosos” e, por isso, pagaram com a perda do bem mais valioso que possuíam . Deixou uma lacuna na história do combate à criminalidade, que tem marcado a trajetória do Ministério Público nacional.

Promotor de Justiça austero, Francisco José desempenhava sua função com coragem, amor, obstinação e, sobretudo, com fé. Acreditava na transformação da realidade social, dura e cruel, que tão seriamente aflige a população brasileira.

Poeta, herdou do avô, o romancista e escritor nordestino José Lins do Rego, o talento literário.

Dos livros publicados pelo autor de “Menino de Engenho”, declarava a sua predileção por “Moleque Ricardo”, em face da abordagem do problema social, especialmente do homem que deixa o interior para ganhar a vida na cidade grande. Sua identidade com o mestre das letras revelava-se com bastante firmeza: o romancista denunciava, em suas obras, as perversidades da sociedade patriarcal. O neto promotor, enfrentando com firmeza a máfia urbana, de certa maneira continuava a obra ficcional do avô.

A morte trágica do poeta e promotor Francisco José Lins do Rego pôs fim, prematuramente, a uma carreira das mais brilhantes e vibrantes do Ministério Público.

Infelizmente, a atuação altiva, independente e corajosa do Ministério Público tem incomodado muita gente.

Se até mesmo algumas autoridades públicas, não raro, condicionadas, ainda, a procedimentos antigos e ultrapassados, da época em que o autoritarismo e o arbítrio norteavam seus atos administrativos, legalizados sob o manto da discricionareidade, não admitem ser fiscalizadas pelo órgão defensor do estado de direito e da sociedade democrática, imaginem, então, os integrantes do crime organizado, das “gangues” e das quadrilhas !

Mas, a abnegação e a coragem, grandes qualidades da alma, são palavras de ordem no Ministério Público da atualidade.

Após a morte física fica a memória, permanecem nossos atos, nossas realizações, nossas atitudes.

Francisco José Lins morre mas nos deixa um legado: seu exemplo de vida, sua bravura.

Com certeza, outros integrantes do valoroso Ministério Público continuarão a investigar, com muito mais vigor, as ações dos donos de postos que adulteram combustíveis, das quadrilhas que surrupiam dinheiro público e do crime organizado. A justiça haverá de prevalecer.



* É presidente da Associação do Ministério Público de Alagoas.














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