Rio de
Lágrimas
Parte IV
Descendo
o rio.
Finalmente, chegou o dia 27 de dezembro de 2013, data
fixada para a expedição dos amantes do Velho Chico cumprir a
segunda etapa da extasiante aventura, agora rumo à foz. Saímos de
Maceió na véspera: eu, o Coronel Marcus Pinheiro e o Sargento Alex,
ambos da polícia militar de Alagoas; o Claudemir Mota, fotógrafo; e
o José Luiz, piloto e cuidador da “Catita do Rancho”, a valente
lanchinha de 24 pés que, na viagem anterior, nos levou até Canindé
do São Francisco e nos trouxe de volta.
Como da
outra vez, chegamos ao nosso sítio denominado de “Rancho São
Francisco” no começo da noite. Já nos aguardavam os nossos
colaboradores de terra, o Eraldo, a Mazé e a Flavinha. Como sempre,
a Mazé havia preparado uma suculenta refeição e, ao longo da
noite, cuidamos dos últimos preparativos para a viagem.
|
Café da manhã no Rancho São Francisco. (Foto: Claudemir Mota) |
Lavamos
a lancha e a abastecemos de todos os mantimentos necessários.
Traçamos a rota. Quinze dias antes, havíamos consertado a hélice
do motor Mércury, de 200 cavalos, danificada na viagem anterior após
chocar-se com uma pedra submersa e, junto com ela, levamos uma outra,
nova, de reserva.
|
Equipe preparada para ir ao Porto. (Foto: Claudemir Mota) |
|
O Pavão queria ir junto. (Foto: Claudemir Mota). |
|
abastecendo a lancha . (Foto: Claudemir Mota) |
|
Descendo a rampa. (Foto: Claudemir Mota) |
Dormimos
e, pela manha, após o dejejum, rebocamos a embarcação ao posto e a
abastecemos de combustível e água. Na beira do rio, reintegrou-se à
equipe o José Rodrigues, o Rodrigo, que, desta vez, levou sua janga
com motor Yamaha de 40 cavalos para nos dar apoio. Enquanto isso, o
Claudemir fotografava a Matriz de Nossa Senhora do Ó e o monumento,
totalmente reformado, localizado na Rocheira, ostentando a imagem
restaurada da Virgem Maria. Exatamente às 09 horas daquela manha
ensolarada, todos a bordo, saímos com destino à desembocadura do
rio. Combinamos fazer uma única parada em alguma ilha, para o
almoço, e em Penedo, à noite, onde deveríamos acampar.
|
Começamos a descer o rio. (Foto: Claudemir Mota) |
Passamos
pela fazenda Sacão, depois pela fazenda Marcação, hoje um
assentamento rural no município de Traipu. Avistamos os povoados
Oiti e Tijuco no lado sergipano; do outro lado, na margem alagoana,
lá estava o povoado de Lagoa Funda; em seguida, vimos o povoado
sergipano de Escurial, já visitado na primeira parte da aventura.
Ainda em Traipu, ao passarmos pelo distrito de Bom Jardim, orlado por
um denso cortejo de mangueiras das mais variadas espécies, vimos, ao
longe, a jusante, uma ilha com grande extensão de praia de areias
douradas, nas imediações do município de São Brás, em Alagoas.
Ali ancoramos as embarcações, montamos uma barraca, fizemos fogo,
assamos carne e almoçamos. A essa altura o relógio já marcava 13
horas.
|
Almoço na Praia de Areias douradas. (Foto: Claudemir Mota) |
Navegamos
até aquele ponto em velocidade moderada, por conta dos bancos de
areia. Eram muitos. Tínhamos que andar em zigue-zague. O Claudemir
fotografava tudo: as fazendas, as igrejas, as pastagens, os povoados,
as garças que embelezavam o leito do rio com seus voos
sincronizados. A água do rio cada vez mais azul e, como previsto, as
margens, ainda verdes em razão de chuvas esparsas de verão, se
achavam ornamentadas pelo amarelo, pelo branco e pelo vermelho das
flores das caatingas, dos ipês e dos mandacarus: um espetáculo da
natureza. Tomamos banho, preparamos as embarcações e, por volta das
15 horas, zarpamos rio abaixo. O trecho seguinte, com mais volume
d'água, nos proporcionou uma navegação mais rápida.
Da ilha em que estávamos até Propriá, em Sergipe,
passando por Porto Real do Colégio, em Alagoas, gastamos quarenta
minutos, navegando no limite da velocidade de cruzeiro, ou seja, 30
milhas náuticas, ou nós. A lancha planava de maneira que parecia
voar na flor da água. Viagem rápida, segura e econômica, porque o
motor se esforça menos, já que o atrito do casco da embarcação na
água é mínimo. Logo avistamos o morro do Gaia, em São Brás,
local onde é feita a captação da água que abastece a cidade de
Arapiraca, a segunda mais importante de Alagoas. Aportar em São Brás
é difícil, em virtude do assoreamento. Já Porto Real do Colégio
apresenta uma estrutura portuária bem melhor. Escrevemos sobre essas
cidades na primeira parte deste trabalho. Em Colégio, chama a
atenção a imagem de Bom Jesus dos Navegantes, fixada em uma
saliência rochosa na margem do rio.
|
Morro do Gaia, onde é captada a água para Arapiraca, em Alagoas (Foto: Claudemir Mota) |
|
O voo da garça. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Ainda o morro do Gaia, em São Brás. (Foto: Claudemir Mota)
|
Do lado direito, a cidade de
Propriá. Belo lugar, desenvolvido e marcado pela existência de
casarões antigos e pelo lindo templo católico, em estilo gótico.
Na verdade, Propriá já foi a segunda cidade mais rica de Sergipe,
sede do comércio regional, mas a decadência do Velho Chico, aliada
a administrações municipais desastrosas, transformaram-na na 22ª
economia do Estado. Propriá ficou conhecida também através da
canção de Luiz Gonzaga que diz:
“Tudo que eu tinha deixei lá não trouxe
não
deixei o meu roçado plantadinho de feijão
deixei a minha mãe com meu pai e meus
irmãos
e com a Rosinha eu deixei meu coração
Por isso eu vou voltar pra lá
não posso mais ficar
Rosinha ficou lá em Propriá
Aiai, uiui, eu tenho que voltar
Aiai, uiui, a minha vida tá todinha em Propriá”
|
Ponte que liga Porto Real do Colégio, em Alagoas à Propriá, em Sergipe. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Casarões do início do Século passado, em Propriá/SE. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Embarcação típica da região. (Foto: Claudemir Mota) |
Interessante é que eu tinha uma tia chamada Rosinha,
que morava em Propriá. Naquela época, eu pensava que a música do
Gonzaga, que tocava constantemente no rádio, falava justamente dela.
Coisas de criança.
O relógio marcava 16 horas. A janga do Rodrigo vinha
sendo conduzida pelo José Luiz. Do rio, limitamo-nos a fotografar a
cidade, pois pactuamos visitar algumas delas na ida e outras no
retorno. Seguimos viagem. Passamos pela ponte que liga Porto Real do
Colégio a Propriá, bela obra da engenharia. Navegamos sob o vão
principal, onde a correnteza era muito forte. Aceleramos a valente
“Catita”, pois queríamos chegar em Penedo, a Capital do baixo
São Francisco, antes do anoitecer.
|
Igreja Matriz de Propriá, em Sergipe. (Foto: Claudemir Mota) |
Tivemos que nos deslocar de Sergipe para a margem
alagoana, devido à existência de extensos bancos de areia no lado
sergipano. O rio, desse ponto em diante, apresenta uma beleza
bastante variada, seja em razão da alternância entre morros e
baixios nas margens, seja em razão da diversidade de biomas,
começando a prevalecer a mata atlântica. Há muitas fazendas e
povoados nas duas margens. Passamos a desenvolver novamente uma
velocidade de 30 milhas, pois o trecho permitia. Começava a
anoitecer. O José Luiz, que vinha logo atrás, sumiu. Surgiu um
dilema: aguardaríamos o José Luiz e seguiríamos com as duas
embarcações no escuro até Penedo, ou aproveitaríamos, ainda, a
claridade do entardecer e rumaríamos até Penedo para aguardar o
velho piloto extraviado, confiando em sua experiência de velejador
do mar e do rio? Achamos que a segunda opção era mais inteligente,
pois ancoraríamos a “Catita” com segurança e tomaríamos as
providências caso a embarcação de apoio demorasse muito. Assim
fizemos.
|
José Luiz ficou pra trás e sumiu. (Foto: Claudemir Mota) |
A
região de Penedo é cheia de ilhas. Navegando entre uma e outra,
chegamos em Penedo no início noite. O movimento de balças e outras
embarcações era grande. Um pouco antes do porto das balças,
defronte à Igreja Nossa Senhora das Correntes, avistamos um pequeno
espaço entre uma pedra e o casco do navio Comendador Peixoto,
abandonado naquele local na década de 70 do século passado, tendo
posteriormente afundado. Como adquirimos grande experiência em
atracar em todos os tipos de portos, com píer ou sem píer,
em terrenos de areia e até com pedra, não tivemos nenhuma
dificuldade de ancorar a lancha. A operação foi realizada com
grande habilidade.
O relógio marcava 19 horas. Desembarcamos, e nada de
o José Luiz aparecer. Tentamos comunicação via celular, mas
verificamos que o seu telefone ficou a bordo da “Catita”.
Deixamos o Alex tomando conta da lancha e fomos até à praça da
prefeitura. Ligamos para um amigo navegador, o Mario Jorge, para
pedir auxílio na busca pelo José Luiz. Nesse instante, o Alex nos
ligou e disse que o José Luiz havia chegado no porto sem nenhum
problema. Foi um alívio para todos. O Coronel Pinheiro, que é de
Penedo, nos levou, então, a um maravilhoso restaurante, o Maurício
de Nassau, situado entre a prefeitura e a catedral de Nossa Senhora
do Rosário, um dos sítios mais encantadores da cidade. Reunida a
equipe, pudemos degustar uma boa peixada com camarão e a
especialidade da casa: jacaré. O restaurante é um verdadeiro museu
sobre o São Francisco, com fotos antigas e objetos regionais.
|
Prefeitura Municipal ao fundo. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Restaurante Maurício de Nassau, em Penedo/AL. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Entrada do Restaurante Maurício de Nassau, em Penedo. (Foto: Claudemir Mota). |
|
Aguardando o jantar ao lado do amigo Mário Jorge. (Foto: Claudemir Mota) |
Antes do jantar, chegou o Mário Jorge Athayde,
de quem nos tornamos amigos em razão de dois pontos comuns: o fato
de apreciarmos tanto o mar quanto o rio. O Mário é um velho lobo do
mar, nascido em Penedo, tendo morado um bom tempo em Recife.
Construtor, foi secretário de obras de Penedo e hoje montou uma
escola de vela. É proprietário de várias embarcações, dentre
elas o catamarã Taroa, de 27 pés, com o qual navegou até a
Ilha de Fernando de Noronha para participar da Regata Recife –
Fernando de Noronha (Refeno), em 2010. O nome do veleiro do Mário é
“Seu Dadá”, uma homenagem ao seu saudoso pai, um nome muito
conceituado em toda região. O Mário nos deu, naquela noite, grandes
lições de navegação e valiosos detalhes sobre o São Francisco.
|
A Janga do Rodrigo conduzida pelo José Luiz afundando. (Foto: Claudemir Mota) |
Quando,
por volta das 23 horas, chegamos ao porto, surgiu um imprevisto! A
janga do Rodrigo, uma Fibramar de 17 pés, estava literalmente
afundando. Grande preocupação tomou conta de todos. Pensamos, a
princípio, que teria ocorrido alguma avaria no casco. A essa altura,
o motor já estava submerso. A presença do experiente Mário Jorge
foi fundamental para a solução do aparentemente grande problema que
estávamos a enfrentar. Juntamos 10 pessoas e, com a ajuda da
camioneta Ranger do Mário, conseguimos arrastar a janga pra
fora da margem até uma saliência arenosa. A embarcação ficou em
declive, como se fosse uma gangorra, e, retirados os bujões, toda
água vazou, o que nos custou quase uma hora. Com o casco seco, foi
mais fácil colocá-la novamente na água e rebocá-la em uma carreta
do grande amigo Mário Jorge.
|
Acampando em uma ilha defronte a Penedo. (Foto: Claudemir Mota). |
Deixamos
a embarcação recém-naufragada no posto de combustível localizado
à beira rio e, por volta da meia noite, sob a orientação do Mário,
subimos todos a bordo da “Catita” e, vagarosamente, lançamo-nos
ao rio à procura de um lugar seguro para montar acampamento.
Navegamos na escuridão profunda. Circulamos uma ilha extensa e,
depois de meia hora, finalmente encontramos uma praia adequada.
Ligamos o gerador, armamos duas barracas, fizemos fogo e, por volta
de uma hora da madrugada, estávamos tomando café sob um céu
caprichosamente estrelado. O Claudemir, nosso fotógrafo, também
conhecido por “Batoré”, um poço até aqui de medo, ficava
vigilante, atento a todo e qualquer ruído que pudesse ser percebido
no entorno do acampamento, como se estivesse prenunciando o ataque
irresistível de algum predador ou a inoportuna chegada de algum
visitante inesperado.
Por
volta das 07 horas, depois de tomarmos café e desmontarmos o
acampamento, embarcamos e seguimos novamente para o continente, a fim
de resolver o problema da janga. Pelo dia, percebemos como o rio
estava assoreado e ficamos a nos perguntar: como havíamos navegado
naquela localidade pela noite, sem encalhar em um banco de areia
sequer?
Aportamos em Penedo, em um trecho apinhado de
pequenas embarcações. Ancoramos entre uma e outra e encontramos
novamente o Mário, que providenciou mecânico para verificar o motor
do barco que havia ficado temporariamente sob as águas. Enquanto o
Mário, junto com o Rodrigo, tomavam essas providências, saímos a
passear pela cidade e tiramos fotos de pontos turísticos
importantes, como a igreja de São Gonçalo Garcia, o mercado público
e outros.
Ao retornarmos ao porto, o Mário já nos informou que o motor estava
em perfeita condição, e que a lancha só submergiu porque entrou
água pela tubulação da instalação elétrica. A explicação foi
simples: ao chegar em Penedo, o rio estava com o nível baixo, em
razão da influência da maré. Como a janga ficou em declive por
causa do sulco natural da margem, com a proa em cima da areia, quando
o rio começou a encher, o movimento das águas foi, pouco a pouco,
invadindo a embarcação, que começou a afundar. Mais uma lição do
mestre Mario Jorge Athayde: “Deixe a embarcação sempre dentro
d´água”.
Agradecemos
ao Mário e embarcamos todos. Agora o Rodrigo e o Alex iam na janga,
e nós outros, na “Catita”. Os ânimos eram outros. A animação
tomava conta de todos. A ideia de chegar à foz nos empolgava.
Rumamos em direção ao porto de Neópolis, em Sergipe, seguindo a
rudimentar sinalização de navegação: pedaços de madeira fincados
no leito quase seco do rio com um pedaço de tecido amarrado em sua
extremidade, informando basicamente qual era o trecho navegável.
Seguindo a montante, fomos à cidade de Santana do São Francisco,
antiga Carrapicho, município recém-criado e que tem se notabilizado
pela arte em cerâmica e barro. Visitamos inúmeras oficinas de
artesanato. Chamaram-nos a atenção as estátuas em tamanho natural
de santos e de personalidades políticas do País. Animais como
vacas, porcos, aves, peixes, além de igrejas, índios, baianas e
outras figuras interessantes formam o elenco criativo do que se
produz em Santana do São Francisco e se encontra em todo o Brasil,
mostrando a arte do baixo São Francisco. Fizemos compras, visitamos
a aconchegante cidade e nos dirigimos à margem do rio, para embarcar
rumo à cidade de Piaçabuçu.
|
Esculturas em barro. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Irmã Dulce, esculpida por Capilé (Foto: Claudemir Mota) |
|
Arte em barro de Santana do São Francisco. (Foto: Claudemir Mota) |
Eram 11
horas do dia 28 de dezembro de 2013. Que paisagem deslumbrante!
Baixios enormes, ilhas extensas, vegetação diversificada. O trecho
permitia que navegássemos em velocidade mais rápida. Passamos por
inúmeros povoados existentes nas duas margens, embora navegássemos
mais pela margem alagoana. A partir do povoado de Penedinho, já no
município de Piaçabuçu, encontramos inúmeras chácaras de luxo,
com iates e todo tipo de embarcação atracadas em
píeres
particulares. À medida que nos aproximávamos de Piaçabuçu,
percebíamos que o leito do rio se encontrava cheio das embarcações:
escunas, lanchas, veleiros, canoas de pescaria, embarcações
marítimas etc. Parecia que estávamos em outro país.
|
Barcos em Piaçabuçu/AL. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Veleiro"Seu Dadá". (Foto: Claudemir Mota) |
|
Embarcações típicas da região. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Porto de Piaçabuçu. (Foto: Claudemir Mota) |
|
A pesca na região de Piaçabuçu é intensa, em razão da proximidade com o mar. (Foto: Claudemir Mota) |
|
São muitos as mansões à beira-rio com seus piers, na região de Piaçabuçu/AL. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Ancorando em Piaçabuçu. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Providenciando o combustível. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Coreto de Piaçabuçu. (Foto: Claudemir Mota) |
|
Uma das casas mais antigas de Piaçabuçu. (Foto:Claudemir Mota) |
|
Praça central de Piaçabuçu, vendo-se, ao fundo, a Matriz de Nossa Senhora Mãe dos Homens. (Foto: Claudemir Mota). |
|
Pescando com a tarafa. (Foto: Claudemir Mota) |
Chegamos em Piaçabuçu, a última cidade alagoana do baixo
São Francisco. Procuramos um lugar para atracar as embarcações. O
porto estava muito movimentado. Avistamos uma espécie de beco onde o
rio avançava. Tivemos a ideia de ancorar os barcos ali. Foi
perfeito. Algumas embarcações pequenas se achavam na localidade.
Ficamos eu e o Claudemir a bordo da “Catita”, e os demais
companheiros foram providenciar combustível para as duas
embarcações, em uma moto guarnecida por uma carreta. Duas viagens
foram suficientes para o abastecimento. O Rodrigo aproveitou e
comprou “quentinhas” com arroz, carne, frango e linguiça,
furando o pacto de que deveríamos preparar a nossa própria refeição
nas ilhas. Mas a verdade é que, com a fome que estávamos, aquela
tinha sido a melhor ideia do dia.
|
Os barcos retornando da foz com turistas a bordo. (Foto: Claudemir Mota) |
Seguimos navegando e logo adiante encontramos uma praia na margem
alagoana, perfeita para almoçarmos. Almoçamos a bordo. A distância
de Piaçabuçu à foz é de 14 quilômetros, e o relógio marcava 15
horas e 30 minutos. Em velocidade de 20 nós, deveríamos fazer o
percurso em, no máximo, quarenta minutos, o que de fato aconteceu.
Era intenso o movimento de embarcações vindas da foz com turistas
de Alagoas e de outras partes do Brasil. Catamarãs e lanchas
repletos de passageiros. Passamos por 25 ou 30 deles. Os turistas nos
acenavam, embalados pelo som de canções bem animadas. Interessante
é que, tão logo saímos de Piaçabuçu, já avistamos as dunas da
foz, que parecia mais próxima. Pouco depois das 16 horas, chegamos à
foz do rio São Francisco, uma das paisagens mais belas que já
vimos. As praias estavam cheias e embarcações. Encostamos na areia,
tomamos banho, conversamos com alguns turistas. O Cel. Pinheiro
encontrou conhecidos. Do outro lado do grande lago formado pelo
encontro do mar com o rio, avistamos o famoso farol de aço na praia
de Cabeço, no lado sergipano. Uma bela visão! Navegamos cerca de
dois quilômetros em direção ao farol, em águas profundas. A
medida em que nos aproximávamos do farol, percebíamos a grandeza e
a beleza daquele monumento imperial, já inclinado pela força do
tempo e das águas, apesar de firme no chão, ainda. Ancoramos as
embarcações próximo ao farol, mas fomos informados pelos nativos
de que ali era quase mar aberto, e que ventava muito pela noite, além
da forte correnteza ocasionada pela maré.
Contornamos a praia do
farol e entramos em uma espécie de lago, com águas totalmente
abrigadas, cujas praias situavam-se rente ao farol. É que o farol
fica localizado em uma espécie de península, lugar perfeito para
montar acampamento. E lá fomos nós: armar barraca, fazer fogo,
ancorar as embarcações, com o máximo cuidado para não sermos
tomados de surpresa pela maré alta – mais uma lição do “velho
lobo do mar” Mário Jorge Athayde. Aproveitamos para fotografar o
farol e a região. Em terra firme, também em Sergipe, extensos
coqueirais. O anoitecer foi belíssimo, sobrelevando, na ocasião, a
silhueta do velho farol, que parecia tudo observar.
Ainda
no gozo daquele maravilhoso espetáculo, recolhi-me aos meus
aposentos na “Catita do Rancho” e, sem nenhum esforço mental,
surpreendi-me com o pensamento voltado para a história da índia
Irati. Nos próximos dias, postarei relatos do retorno desta
magnífica aventura pelas águas sinuosas do rio São Francisco da
minha infância, da minha adolescência, da minha vida.
fico feliz por fazer parte dessa historia e tenho certeza que todo historiado vão gostar e saber que o rio são fransisco pede socorro parabéns dr Eduardo tavares pelo brilhante trabalho.
ResponderExcluirQue bom rever estas paisagens lindas rio são francisco parabéns Eduardo Tavares pelo brilhante trabalho!!!
ExcluirBELO PASSEIO!!!! MUITO FELIZ EM VER QUE EXISTEM PESSOAS QUE APRECIAM AS BELEZAS DO VELHO CHICO. PARABÉNS!!!!!
ResponderExcluirParabéns pela aventura que na medida o acompanho, e viajo nas fotos e palavras,fazendo parte imaginaria da comitiva.D.pedro II em fins de 1859 percorreu esse baixo São Francisco, em Navios a Vapor muito pesado e de difícil navegação,mas mesmo sendo um Monarca fez sem medo e a considerou coma uma viajem.A profundidade do rio não ofereceu nenhum perigo naquele tempo.Hoje com tristeza vejo esse percurso ser considerado e é, uma aventura numa lancha que plaina sobre as águas, temendo encalhar nos bancos de areia. O homem na ganancia de ganhar dinheiro cria e planta sem cuidado e desbrava as margem permitindo a erosão causar tamanha ameaça. Vocês caros amigos ,ainda estão com sorte fazer tal façanha e poder contar.E no futuro?Talvez usando Bugres nas dunas do leito seco do rio.
ResponderExcluirQuando nos deparamos com um belíssimo texto retratando as nossas belezas naturais,temos a exata certeza e dimensão do que representa a verdadeira felicidade na vida dos seres humanos.Valores verdadeiros e essenciais para nutrir e engrandecer a alma de um ser humano são esses. Ser feliz reside em perceber e ter a sabedoria para sentir que a riqueza reside nas coisas mais simples e ao mesmo tempo mais elaboradas pela vida.
ResponderExcluirO belíssimo texto e paisagens expostas por esse verdadeiro ser humano de nome Eduardo Tavares somente confirmam que por maior reconhecimento que um cidadão possa alcaçar perante a sociedade,ele não pode se afastar daquilo que de fato represente o maior e único legado que a vida, nessa sua tão efêmera passagem, nos proporciona e que reside na felicidade retratada na simplicidade dos gestos,das palavras,no trato humano e sobretudo com a preocupação de preservar esse cenário belo e esplenderoso que represente a natureza. Parabéns à esse verdadeiro ser humano que na trajetória da sua vida tem demonstrado que seus valores são sólidos e que consistem na humanidade,na simplicidade e sobretudo na constante preocupação em luter e alertar de que o maior e realmente majestoso presente que a vida nos deu é a natureza,o verdadeiro caminho para a felicidade e que para alguns está erroneamente coberta pelo manto do poder,da ambição e do desrespeito à natureza,mas que felizmente encontra em pessoas como o Dr.Eduardo o retrato de uma alma pura,simples,boa e que realmente compreende que a feliciidade humana encontra sua verdadeira guarida nesse espetáculo divino que é a nossa natureza!!!
me senti como se presente estivesse no palco da brilhante narrativa; como mineiro residente no planalto de Araxá, local da nascente geográfica do Velho Chico, detenho laços com o Alagoas perpetuados pelo imenso cordão umbilical do Brasil representado pelo Rio São Francisco...abraços ao Eduardo Tavares que tive a honra de conhecer na via telefônica através de nosso amigo comum Maurício Wanderley!
ResponderExcluirFico feliz em ter pessoas como que ame o rio São Francisco e a Caatinga. Conte comigo nos conhecemos no Encontro dos Carreiros em Maceió a semana passada, convidado pelo Ricardo Aragão.
ResponderExcluirJorge Izidro
Ambientalista (Comitê da Bacia do São Francisco)