domingo, 22 de março de 2015

A Morte anunciada do "Velho Chico"

                            A Morte anunciada do "Velho Chico" Por Eduardo Tavares Mendes*
                                                        Cada vez mais passo a achar que o Brasil é, verdadeiramente, um  País de ninguém, em todos os campos. É o País da corrupção, das drogas, da violência, da impunidade e o lugar dos escândalos, como o da Petrobras, o mensalão e umas tantas centenas de outros, como sabemos. O que me dói mais, contudo, é a forma irresponsável, criminosa, como as nossas autoridades tratam  o meio ambiente, a natureza. E nessa seara esse e um País sem futuro, afirmo. Pelo modo como deixam que devastem a Amazônia, pela maneira como os gestores, em todos os níveis, tratam, por exemplo, os nossos mananciais. Na verdade quero me referir aqui à morte anunciada do Rio São Francisco, o nosso “Velho Chico”, outrora o Rio da Integração Nacional, orgulho dos nordestinos e fonte de riquezas para milhões e milhões de brasileiros que dependiam de suas águas e de sua bacia. Aquele rio que na época do descobrimento adentrava ao mar quilômetros e quilômetros como descrevera Caminha ao Rei de Portugal, hoje é invadido quase cem quilômetros rio acima pelo oceano Atlântico, fato que confirma a tese de que o rio morre pela foz. E isto já está acontecendo por culpa de interesses outros como, por exemplo, o abastecimento elétrico de indústria e mais indústrias em detrimento de todo um eco sistema, da mortandade dos peixes e da vida fluvial, da mudança de todo o entorno do rio e do desespero de ribeirinhos, como eu, e de toda uma comunidade que teme – como diz o pesquisador João Suassuna - morrer de sede e no escuro.

                                                                                Nem água, nem indústria. Nem fartura de peixes, hortaliças e outros produtos, nem luz elétrica. O Rio já está morrendo. Transposições de águas de rios e de lagoas representam ações milenares, afinal a água doce da terra existe para servir ao homem. Civilizações antigas como a China e a Índia há dois mil anos já mexiam com o manejo da água, porém, com responsabilidade e sustentabilidade, por isso eram conhecidas como civilizações hidráulicas. O “Velho Chico”, depois de sobreviver às eras do carvão, do couro, do ouro, das pastagens e, depois, das hidrelétricas, vai enfrentar agora a maior estupidez praticada pelo homem, do ponto de vista técnico, que é a transposição de suas águas, com a desculpa ainda mais estúpida de que o líquido servirá para matar a sede dos nossos irmãos nordestinos, região que concentra o maior número de açudes no Brasil e que acumula mais de 70 milhões de metros cúbicos de água não utilizada. E não utilizada por inação das autoridades, pois certamente, a exemplo da Petrobras, a transposição que trabalha praticamente com o mesmo consórcio de empresas, que operam na Petrobras, renderá muito mais. Vejamos o descaso: o deflúvio normal do Rio São Francisco, é de dois mil e setecentos metros cúbicos de água por segundo. (o Rio Tocantins, com bacia semelhante, tem um deflúvio de onze mil e oitocentos metros cúbicos por segundo). A vasão mínima, do rio São Francisco, que somente pode acontecer em emergências absolutas é de mil e trezentos metros cúbicos por segundo, o que já vem acontecendo há anos e, já em razão disso, navegação apenas com embarcação de baixo calado. Chamo a atenção para o fato de que com o deflúvio de mil e trezentos metros por segundo o caos já se estabeleceu em toda bacia do São Francisco.

                                                                         Os canais mudaram de lugar, os peixes sumiram e muitas áreas ribeirinhas viraram sertão “brabo” daqueles que o sol esturricante do semiárido “laxa” o solo. Como se não bastasse isso, a vasão passou depois a ser de mil e cem metros cúbicos por segundo, foi o que permitiu que, em alguns s trechos se atravessasse o leito do já moribundo rio a pé. Desastre total!. Uma vergonha para os governos dos estados cortados pelo São Francisco, uma vergonha para o incompetente governo federal que mal gere os escândalos que produz. Agora, caro leitor, somos pegos com o anúncio feito pela ANA – Agência nacional de Águas- de que que a barragem de sobradinho vai conter cerca de dez por cento das águas, ou seja, o deflúvio passará de mil e cem para apenas mil metros cúbicos por segundo. Aí paciência. Se já era caso de polícia, de responsabilização, de processo e de prisão, já que não temos outro tipo de pena, agora é caso para os tribunais internacionais.

                                                                        A população tem que se mobilizar em prol do mencionado rio, sob pena de que amanhã, como dizia o poeta, “choremos uma lágrima por ele, mesmo que sincera”. morte do “Velho Chico” anunciada pelo governo: Cadê os ambientalistas, e o comitê do baixo São Francisco ( Até porque será entre Alagoas e Sergipe que o rio morrerá) eles não se manifestam! A verdade, é que cidadania passa longe dos brasileiros que estão preocupados, apenas com os seus problemas. É cada um por si e ninguém pelo meio ambiente e muito menos pelo outrora conhecido rio dos currais. O Ibama, como se sabe, autorizou a medida. Espero que vozes bradem! Que mulheres e homens lutem! Que os ambientalistas deste País agredido pelo infortúnio de contar tão maus políticos e tão maus brasileiros, façam a sua parte. Lutemos todos pelo rio que já foi o mais importante curso d’água do Brasil. A sua morte, apesar de anunciada, pode ser evitada. Existem outras fontes de energia. Essa fatura não pode se debitada na conta de quem não tem como pagar: O Rio São Francisco.

*É ribeirinho e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas -IGHAL

2 comentários:

  1. O artigo é importantíssimo. Revela a triste realidade de um dos rios mais importantes do Brasil e o descaso das autoridades e dos brasileiros para com ele. É preciso alertar os ambientalistas e os governantes. Com a vasão anunciada o rio estará praticamente seco.

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  2. Catarine, eu sou amazonense e considero o Rio São Francisco um dos maiores rios brasileiros, se não o maior. Veja quanto este Rio produz de energia elétrica, são mais de 10 GW, nas suas margens, vejo na TV, se planta até uva e de boa qualidade. Eu entendo as suas preocupações, mas quando dizes que o Rio São Francisco está morrendo as pessoas que se servem dele sabem que não é verdade. A natureza é resiliente e os fenômenos são cíclicos. Em 2010 tivemos uma seca terrível no Rio Amazonas e agora estamos vivenciando mais uma cheia histórica. Os oceanos subiram de 1501 para cá e é normal, dado a isso, que hoje a visão que os português tiveram não exista mais. O mundo é dinâmico, tudo passa. É claro que devemos conservar e sei que teus anseios e apelos são sinceros, mas acredite o "Velho Chico" continua mais vivo do que nunca. Se tiver dúvidas, vá até a um hospital e pergunte a um doente, cuja respiração está sendo mantida pela energia das águas do "Velho Chico" se ele acha que o Rio tá morto? O país vive um crise hídrica gravíssima que Graças a Deus não depende de nenhum político ou coisa que o valha. O que os técnicos fazem é tentar regular a vazão do Rio São Francisco para mante-lo por um período maior até que as chuvas voltem e tudo se normalize. Marçal.

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