sábado, 3 de setembro de 2011

Arte da política

Arte da política

*Eduardo Tavares Mendes

É incrível que no século da alta tecnologia, da informática e dos desafios espaciais, que em pleno terceiro milênio, estejamos, ainda, procedendo de modo tão rudimentar em algumas áreas da convivência coletiva e comunitária, mormente na política.

A briga pela Presidência da República, que poderá ter desfecho já no próximo dia 06 de outubro, tem demonstrado que, entre nós, a política tornou-se apenas uma especialidade eleitoreira. Não é mais a arte de governar um estado.

Ao invés de trabalharem no plano das idéias, os candidatos rebuscam e invadem a vida dos adversários e os projetos e planos de governo perdem lugar, na mídia e na consciência popular, para a atenção dada ao seus comportamentos e atos do passado, alguns muito graves, outros, insignificantes. Quando o passado de determinado candidato não é comprometedor, os políticos o inventam. Uma curiosidade, destarte, tem sido constatada na “politicagem” brasileira: quer saber se o seu candidato tem antecedentes nebulosos ? Faça-o subir nas pesquisas! Vem sendo assim, não raro, desde que criaram as pesquisas de opinião. E o Brasil, desse modo, segue o seu destino: incerto, obscuro e a mercê da inteligência de homens que, seguramente, não têm compromisso com as causas e os interesses sociais.

A conduta dos candidatos ao posto de mandatário maior da Nação, verificada através dos meios de comunicação, nos faz pensar que não há moral em política mas, somente, conveniência. Alexandre Dumas, escrevendo sobre a arte da política, afirma que “Não existe assassinato na política. Suprime-se um obstáculo, nada mais. Pois nela não há homens, mas apenas objetivos; não há sentimentos, mas apenas interesses.”

Ora, se as grandes questões nacionais, como a pobreza, a crise energética, a educação, a violência e a saúde, ocupam posição secundária nos debates eleitorais, em detrimento da troca de acusações entre os postulantes ao elevado cargo público, a política, no Brasil - longe de ser um conjunto de objetivos que constituem determinado programa de ação governamental - nada mais tem sido do que corrupção! As pessoas juntam-se, não em torno de um ideal, mas, para defenderem os seus interesses pessoais. Inimigos do passado tornam-se companheiros, pois, no dizer de Victo Lasky, “Na política não há amigos, apenas conspiradores que se unem.” E a massa, passivamente, espera o término do espetáculo para dele tomar parte, elegendo o pior, o pouco melhor, ou o menos medíocre dos concorrentes, não se sabe. Ao nosso ver, contudo, há um jeito de o Brasil encontrar o seu caminho, o seu norte: a conscientização popular.

A experiência adquirida em anos e anos de subdesenvolvimento, de dificuldades e de desajustes impostos ao País, aliada à percepção de que a trapaça e a má fé constituem, infelizmente, o caráter de grande parcela de nossos políticos, pode ensinar-nos a ter uma participação mais efetiva na vida política do nosso vasto território, cobrando, questionando, sugerindo e, sobretudo, escolhendo os governantes e os parlamentares que tenham como meta prioritária o desenvolvimento, a paz e a justiça social.

O eleitor soberano, lamentavelmente absorvido pelos problemas da sobrevivência cotidiana, geralmente não conhece ou não consegue interpretar os fatos, não tendo, consequentemente, nada de concreto em que se possa basear para votar . Se é assim, portanto, que o nosso futuro presidente seja o que menos mal possa causar ao Brasil.

* É presidente da Associação do Ministério Público de Alagoas.


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