Taturanas engravatadas
A operação “Taturana” serviu não somente para desmascarar homens públicos que surrupiaram os cofres da Assembléia Legislativa em Alagoas, mas, também, para mostrar como, de certo modo, o povo alagoano é dado a aceitar situações absurdas de desmandos e abusos da classe política com tolerância e resignação. Nesse sentido, por exemplo, nada mais ridículo do que as sugestões de se criar uma frente representativa com a finalidade de se acompanhar a malsinada auditoria feita pela própria Assembléia, em suas contas.
Será, e esta é a pergunta que não quer calar, que depois de minuciosa investigação feita pela Polícia Federal na referidas contas do Poder Legislativo do Estado, quando o saldo da propalada rapinagem aparece estimado na caso dos 280 milhões de reais, quantia elevada até mesmo para os alarmantes padrões de corrupção da política local, é, ainda, necessário o acompanhamento de parte da sociedade civil organizada à “auditoria” instalada nas contas da Casa de Tavares Bastos pelas mesmas pessoas envolvidas neste que pode ser considerado o maior escândalo financeiro do Estado?
O povo alagoano, apesar de sua paciência, em verdade ainda se encontra fortemente impactado pelo resultado das investigações da Polícia Federal, reunidas na operação batizada com o sugestivo nome de “Taturana”. Mas, somente o povo, somente a sociedade organizada pode realmente exigir um resultado imediato e à altura da gravidade da situação: o afastamento de cada homem público envolvido com a fraude até que, se for o caso, cada um prove, ou não, sua inocência. Afora isso, a solução é esperar que as instituições, cada uma em sua esfera de atribuições, ajam. Tudo virá no seu devido tempo. Caberá ao Ministério Público, instituição da qual tenho a honra de participar e que seguramente representa hoje uma das poucas esperanças do povo sofrido desse Brasil espoliado, perseguir os infratores e responsabiliza-los nas esferas civil, política, administrativa e penal, procurando reforçar a coleta de provas visando à plena identificação dos culpados e à caracterização da participação de cada um nessa gigantesca fraude para, finalmente, se for o caso, processa-los na forma da lei.
É certo que promotores e procuradores de justiça estão em alerta e prontos para enfrentar mais este desafio em defesa do patrimônio e da honra da gente desta terra que a cada dia “maior e mais forte nos faz”. Essa é a missão do parquet. Não é atoa que muitas autoridades públicas não suportam a atuação do órgão defensor da sociedade e do Estado Democrático de Direito, pois essas “autoridades” procuram em pleno século XXI atuar com base no obscurantismo, na prepotência no descaso praticando atos lesivos ao erário e a sociedade que, em nosso caso, a tudo tem assistido em silêncio.
De se vê que o Ministério Público, fiscal da lei, tem a sua atuação pautada pelas normas do direito positivo, que lhe dá legitimidade. Diferentemente de alguns organismos que trabalham com a perspectiva político-eleitoral, o Ministério público age sob o influxo da lógica jurídica; para uns o discurso fácil; para nós, o íngreme caminho da lei e da constituição.
Alagoas pode confiar no seu Mistério público, que não lhe faltará nesta hora amarga – como nunca lhe faltou. Vamos cumprir nossa missão em sinergia com a polícia judiciária e com os órgãos de controle interno e externo do Poder legislativo, promovendo as ações judiciais imprescindíveis à reparação dos danos causados ao povo por essas taturanas engravatadas. O povo alagoano é tolerante e paciente, mas é também honrado e saberá ser inclemente com esses maus políticos.
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